segunda-feira, 17 de junho de 2013

Filhos da revolução

João, Rafael e Marcus acordaram naquele dia como em outro dia qualquer, tomaram café da manhã, fizeram suas obrigações em suas respectivas casas e foram para seus respectivos trabalhos.
João era repórter, Rafael estagiário e estudante, Marcus policial. O dia tinha começado como outro dia qualquer, mas não era um dia qualquer. Havia pouco tempo começaram uma série de protestos na cidade, o povo já não aguentava mais, passaram muito tempo calados e havia chegado uma hora em que não conseguiam mais suportar e foram para as ruas.
Naquele dia, Rafael faltou às aulas, queria participar do protesto, queria fazer parte da mudança do país. João foi designado para cobrir a manifestação. Marcus foi designado a contê-la.
Rafael se reuniu com seus amigos no local, o protesto já havia começado e ele se juntou às milhares de vozes gritando por melhores condições. Gritava e andava junto a todos, mantinha o olho aberto para qualquer manifestante mais radical, pois não queria ficar perto e ser confundido com aquela minoria.
João chegou ao local um pouco atrasado, já haviam começado e ele logo caçou sua câmera em sua bolsa para fotografar e filmar. Aparentemente seu trabalho ali não duraria muito, umas fotos aqui, um ou dois vídeos ali, umas entrevistas e pronto, matéria completa.
Marcus chegou ao local com seus colegas de trabalho. Suas ordens eram claras, dispersar os manifestantes e acabar com aquela baderna. A ação começou. O caos começou.
Rafael corria. Sequer conseguia dizer de onde viam os tiros de borracha e as bombas de gás lacrimogênio tamanha era quantidade de pessoas fugindo. Não acreditava que um protesto pacífico como aquela estava sendo tratado com tamanha truculência. No meio da correria esbarrou em um homem, mas sequer pôde pedir desculpas.
João xingava ao pegar a câmera no chão. Não bastava a confusão que se instalara ainda derrubaram sua câmera. Aprontou-a para tirar mais fotos quando de repente sentiu uma forte dor. Primeiro no peito e então no olho. Desmaiou.
- Merda! - xingava Marcus - Merda! Merda! Merda! Maldito repórter levantando do nada! - acabara de atirar em um repórter, sabia que isso acabaria na pior. Foi até ele, estava desmaiado. Ao lado havia um manifestante caído, parece que acertara ele também.
Rafael mal podia acreditar, estava sendo levado preso por ter agredido um repórter. Só esbarrara no homem, não tinha como isso tê-lo feito cair desmaiado.
João ainda não estava completamente bem, mas foi até a delegacia retirar as queixas contra o garoto que fora levado. Saiu da delegacia já com a matéria pronta, contava sobre Rafael, o garoto que foi preso por não fazer nada, e Marcus, o policial que atirara em um repórter e prendeu um garoto para se encobrir. Seria uma matéria perfeita para a época, o povo iria adorar.
***
- João, sua matéria não vai poder ser publicada, ordens de cima - disse seu chefe.
Argumentara muito, mas por fim desistiu, sabia que seu chefe só estava pensando em bajular algum político. Censura, àquela altura do campeonato, mal podia acreditar.
Na semana seguinte, mais um protesto, mas dessa vez, João e Rafael estavam lado a lado.

"Do you hear the people sing?
(você escuta o povo a cantar?)
Singing the song of angry men,
(cantando a música de homens furiosos)
it is the music of a people
who will not be slaves again!
(é a música de um povo que não será escravo de novo!)"

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