quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

O uivo da serpente

Caminhava calmamente através da floresta. A neve sob suas patas era macia, mas gelava até a alma. Um coelho pendia morto entre seus dentes. Era lobo, mas nunca pertencera a nenhuma matilha, nunca se encaixara, era lobo solitário e assim vivera desde a morte da mãe. Mas naquele dia tudo mudaria. Ao chegar à caverna em que havia tomado como seu lar avistou outro lobo. Não, lobo não, loba. Uma loba machucada. Sangue pingava-lhe do tronco. A primeira reação do lobo fora a de largar o coelho e rosnar para a invasora. Ela uivou de dor. Ele rosnou novamente, seguido de um novo uivo. Depois de algum tempo os rosnados e uivos sumiram, dando lugar a latidos e um coelho dividido. O lobo solitário deixava aos poucos essa característica, dali em diante tinha companhia.
Todo dia o lobo saía para caçar e dividia com sua nova companheira, que a cada dia melhorava um pouco de suas feridas enquanto descansava. Depois de alguns dias a loba melhorou e eles passaram a caçar juntos. Aquele lobo que achara que passaria a vida inteira sozinho agora possuía uma companheira. E gostava disso. Mal sabia ele que novamente tudo mudaria.
Certo dia, após voltarem da caçada, resolveram dormir mais cedo. Estavam muito cansados e dormiram rapidamente. Mas não por muito tempo. Pouco tempo depois o lobo fora acordado por um uivo desesperado. Acordou já alerta e, ao olhar para o lado, onde deveria encontrar sua companheira, avistou uma imensa serpente. Já se preparara para atacar, quando de repente, a serpente uivou. Ficou parado sem entender. A serpente novamente uivou. A informação veio como um tiro para o lobo. Ele se assustou, se afastou. Como seria possível? A única pessoa que o compreendera, que estivera disposta a ficar ao seu lado, por que mudara tão de repente?
Em meio a uivos e latidos, lobo e serpente se aceitaram e tentaram conviver. Mas conforme o tempo passava, silvos de serpente eram cada vez mais frequentes e por diversas vezes a serpente o atacara, porém voltava ao normal logo em seguida. Até um dia em que o lobo fora dormir e não mais acordou, pois se o tivesse feito, veria apenas o interior de uma serpente.