sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Herói de guerra

Ele disse "Filho, você já viu o mundo? E se eu te disser que você pode, que você só precisa pegar esta arma e que ainda será pago pra isso?" e assim eu me alistei para o exército. Ganhei o uniforme que eles chama de farda e rasparam minha cabeça. Fiz diversos amigos enquanto aprendíamos a lutar e, por fim, fui mandado à guerra. Ansiava por ser considerado um grande herói de guerra, lembrado por todos.
A princípio não tive muito trabalho, mas um dia fui mandado com mais três soldados para capturar um homem. Invadimos sua casa e ele se rendeu facilmente. O levamos em meio ao choro de seus filhos, mulher e amigos, carregando-o com um saco em sua cabeça.
Chegamos ao galpão onde o interrogaríamos. Eu não fazia ideia de como interrogar alguém, então deixei-os começar. Era uma cena horrível, eles tiraram a roupa do homem, bateram nele com punhos e armas e até urinaram nele. Mandei-os parar mais de uma vez, mas, no fim, me juntei a eles.
Hoje eu percebo que foi ali que a guerra tirou qualquer resquício de sanidade que me restava. A sanidade só voltou a mim após o último acontecimento daquela guerra terrível. Eu estava na frente de batalha quando de repente avistei uma mulher em meio a troca de tiros, rosto confiante e vindo em nossa direção. Eu a mandei parar, mas ela continuou. Foi então que avistei algo em suas mãos.
"É isso" pensei "ela está armada".
Levantei a arma.
Um tiro certeiro.
O exército inimigo parou de atirar.
A mulher caiu.
Em suas mãos podia-se ver uma bandeira.
Uma bandeira branca como a neve.
Eu fiquei sem reação. Minha arma caiu. O exército inimigo se rendeu.
Depois eu vim a saber que aquela mulher que governava o país e, por matá-la, eu fui considerado um herói de guerra.
Um herói de guerra, é só o que eles vêem, apenas medalhas e cicatrizes, orgulhando-se de mim, orgulhando-se por algo do qual eu não me orgulho.